sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Óleo de tea tree e o fim do verão

As propriedades medicinais do óleo de tea tree são conhecidas por centenas de anos pela tribo australiana de aborígines Bundialung. Eles tratavam muitas afecções com macerados das folhas da árvore e costumavam nadar na lagoa onde as folhas da árvore haviam tornado a água um banho terapêutico.
O tea tree passou a ser conhecido no ocidente a partir da expedição do capitão James Cook, que em 1770 aportou na baía de Botany, Austrália, e observou os aborígenes fazerem chá com as folhas de uma árvore, usada com finalidades medicinais. O botânico da expedição, Joseph Banks, coletou amostras das folhas de diferentes espécies de melaleucas usadas neste chá nativo, e acabou por dar-lhes o nome de “tea trees” ou “árvores de chá”.
Em 1920, o Dr. A. R. Penefold, um químico do governo em Sidney, Austrália, recebeu o crédito pelo início da pesquisa clínica em seres humanos e documentação dos diversos benefícios associados com o óleo de tea tree. Seus estudos determinaram que o óleo de tea tree possuía um potencial cerca de 11 a 13 vezes mais poderoso do que o ácido carbólico (fenol) para matar bactérias e fungos, contudo não queimando a pele apesar disso. Os resultados de suas pesquisas foram além das expectativas. O óleo de tea tree veio a ser tão valorizado pelo governo australiano que, durante a Segunda Guerra Mundial, todos envolvidos na produção e fornecimento deste óleo foram dispensados do serviço militar com o objetivo de suprirem a demanda dos soldados britânicos e australianos nas frentes de batalha. O óleo entrou na maleta de primeiros socorros de todos os soldados, e era chamado de “kit medicinal engarrafado”.
A utilização de todo o óleo produzido pelas destilarias pelo governo, resultou no seu desaparecimento no mercado, e aliado ao surgimento de novas drogas durante e após a segunda guerra, ele passou a ser cada vez menos utilizado pelas pessoas, até que entre 1960 e 1970, com o advento de uma nova geração mais voltada para a medicina alternativa e produtos naturais, o óleo de tea tree reviveu novamente ganhando outra vez popularidade. A partir daí, cientistas de várias partes do mundo começaram a desenvolver novos testes com o óleo e comprovar ainda mais sua eficácia já há muito conhecida.
Dentre os diversos tipos de usos que o óleo possui, podemos dizer que o mais interessante é na eliminação de bactérias causadoras de infecções. Pesquisadores australianos demonstraram uma ação rápida em vitro, de menos de uma hora sobre todas as bactérias das colônias estudadas, em diluições que variavam de 0,5% até 1,25% conforme o tipo de microorganismo (veja tabela). Eles estudaram a ação do tea tree sobre um tipo de “supermicróbio”, comumente resistente à meticilina ou MRSA, o Staphylococcus aureus, uma bactéria hospitalar que não responde a antibióticos e mata pacientes em todo o mundo. Descobriram que apenas uma pequena quantidade do óleo de tea tree (uma concentração de 0.25%, equivalente a 5 gotas em 100ml água), foi suficiente para inibir o crescimento bacteriano; com o dobro da dosagem (0.5%), ele mata esta bactéria. Desta forma, não só o uso do tea tree na eliminação de infecções é válida, mas também seu uso na purificação de água e alimentos (como alternativa ao cloro) e no ar (em difusores ou ar condicionado) encontra grande valia.
Uma das vantagens de se recomendar o óleo de tea tree como antiséptico, é que é impossível para um micróbio infeccioso criar resistência a ele. O óleo possui uma complexidade química tão grande, com mais de 100 componentes, que uma bactéria não consegue modificar seu sistema enzimático para lidar com isso. Esta é hoje uma das grandes vantagens do uso do tea tree em substituição aos antibióticos convencionais, que a cada dia perdem mais ação pelo fato dos micróbios estarem desenvolvendo resistência a seus efeitos, exigindo assim o uso de drogas cada vez mais fortes e prejudiciais.
Num estudo do Departamento de Pesquisa do Colégio Nacional de Quiropraxia, EUA, foi constatado que o tea tree age como antiséptico de duas maneiras, através de uma ação direta sobre os microorganismos, e segundo através de um processo de ativação dos glóbulos brancos no processo de defesa do corpo. Sendo assim, podemos considerar que ele possui propriedades imunoestimulantes, o que o torna uma alternativa formidável para pacientes com baixa resistência e/ou doenças que fragilizam sua imunologia e permitem o aparecimento de doenças inoportunas.
Nós temos tido formidáveis resultados do óleo de tea tree no tratamento de infecções e processos inflamatórios. De tudo que conhecemos, nunca vimos nada tão rápido para tratamento de cistites, por exemplo. Ele tem apresentado em nossos estudos excelentes resultados, mesmo naqueles casos em que os antibióticos mais usados falharam.
Pesquisas feitas em maio de 2000 por 4 cientistas (Mikus J, Harkenthal M, Steverding D, Reichling J.) demonstraram uma toxidade 1.000 vezes maior do óleo de tea tree sobre o protozoário Trypanosoma brucei (causador da doença do sono) do que para as células humanas. Eles encontram também bons resultados contra Leishmania major (causador da Leishmaniose). Isto sugere a possibilidade do uso interno do óleo de tea tree no tratamento destes parasitas, assim como a possibilidade de bons resultados sobre um parente próximo do T. brucei, o Trypanosoma cruzi, causador da “Doença de Chagas”.
Testes feitos pelo departamento de medicina experimental, na Itália demonstraram que uma solução num teor mínimo de 0,5% do óleo de tea tree é eficaz contra um largo número de fungos e micoses de pele.
Hoje o tea tree é considerado um recurso valioso dentro da odontologia no tratamento de doenças bucais e na prevenção da cárie. Pesquisadores brasileiros da escola dentária de Piracicaba (via UNICAMP), demonstraram ser o óleo de tea tree mais eficaz que a clorexidina e o óleo de alho no combate a bactérias bucais. Apesar de todos os três mostrarem atividade antimicrobial sobre Streptococci mutans, agente causador de cáries, somente o tea tree apresentou resultados nos outros tipos de bactérias. A clorexidina é em geral indicada para a redução da flora microbiana, sendo utilizada em produtos para desinfecção das mãos, tratamento de infecções na área bucal, genital e da pele. Sendo o tea tree de ação mais ampla que esta substância, o seu uso em soluções alcoólicas ou em gel para assepsia e tratamento dos problemas citados é uma alternativa de grande valia.
No tratamento da candidíase (Candida albicans) o tea tree é infalível. Experiências da Universidade de Hacettepe, Turkia, demostraram ser ele eficaz não só sobre a candidíase normal, mas também sobre a candidíase resistente aos medicamentos usualmente utilizados como a fluconazola. Hoje a candidíase é um problema que ataca um grande número de pessoas, e uma das formas mais comuns tem sido a vaginal, que ocasiona coceiras e desconfortos. Outros estudos da Escola Médica da Universidade de Wayne, EUA, demonstraram em pesquisa similar um potencial do tea tree no tratamento da candidíase orofaringeal refratária à fluconazola em pacientes com AIDS. O herpes labial (Herpes simplex) é outro problema tratável com o óleo de tea tree em diluições de 6%.
O uso veterinário do tea tree é outra alternativa de valor. Ele demonstrou grande eficiência numa pesquisa alemã na eliminação de diferentes tipos de microorganismos (ex. Malassezia pachydermatis) causadores de dermatite seborréica e micoses, especialmente em cães e gatos.
O tea tree apresenta também bons resultados em caspa, queda de cabelo e seborréia, eliminando a maior parte das bactérias e fungos que vêm associados com estes problemas como Pityrosporum ovale e trichophyton sp. Já existem no mercado shampoos de tea tree empregados no tratamento de piolhos, o que dá excelentes resultados. Diluições de cerca de 5% mostraram-se muito úteis para isso e sem efeitos adversos.
O tea tree também demonstrou bons resultados em inflamações do ouvido (otite). Nós particularmente temos tido excelentes resultados com este óleo, principalmente quando casado com cipreste (Cupressus lusitanica) e/ou tomilho (Thymus vulgaris timol), no tratamento de inflamações (acne, abcessos e furúnculos), sendo para estes problemas utilizado puro no local ou diluído em álcool ou gel.

Produção

Hoje, a maior parte da produção do óleo encontra-se centralizada na Austrália, mas existem fazendas também na China, Índia, Europa e agora no Brasil. Um trabalho de cultivo iniciado em Viçosa, interior de MG, permitiu a entrada no mercado de um óleo de muito boa qualidade e preço competidor ao do australiano.
O óleo de tea tree pode ser classificado em 3 quimiotipos principais de acordo com os teores de seus princípios ativos, que podem variar conforme clima, ph do solo, temperatura, etc.
O QT 1 do tea tree possui o teor mais elevado de terpinen-4-ol, variando de 30-45%. Óleo comumente de origem australiana e brasileira.
O QT2 possui mais 1,8-cineol (=eucaliptol), chegando a cerca de 15% (a partir deste quimiotipo, pode-se criar a classificação de mais 3 variedades de óleos (6 então no total), que surgem pela variação dos teores dos outros dois principais componentes junto aos 15% de cineol). Óleo de origem chinesa. A Austrália produz, mas praticamente não entra no mercado.
O QT3 possui mais terpinoleno, que pode ir além de 15%. De origem Australiana.
Abaixo colocamos as % obtidas da cromatografia do óleo com seus principais constituintes comparados ao padrão ISO internacional para o óleo de tea tree, que determina os teores aproximados de cada componente para o óleo no mercado.

Constituinte Proporção Padrão
alpha-pinene 2.4% 1 - 6%
sabinene 0.6% trace - 3.5%
alpha-terpinene 10.2% 5 - 13%
p-cymene 2.2% 0.5 - 12%
limonene 1.1% 0.5 - 4%
1,8-cineole 3.6% 0 - 15%
gamma-terpinene 20.5% 10 - 28%
alpha-terpinolene 3.6% 1.5 - 5.0%
terpinen-4-ol 40.2% 30%+
alpha-terpineol 3.1% 1.5 - 8%
aromadendrene 1.1% trace - 7%
delta-cadinene 1.0% trace - 8%
globulol 0.3% trace - 3%
viridiflorol 0.3% trace - 1.5%

O princípio ativo mais interessante no óleo é o terpinen-4-ol (ou terpinenol 4), que fornece ao óleo praticamente todas as suas propriedades anti-microbiais. O terpinenol 4 quando usado isolado do óleo apresenta resultados semelhantes ao óleo puro, e de forma ainda mais efetiva. Quanto mais terpinenol o óleo contiver, melhor sua ação anti-infecciosa.
O cineol, também conhecido como eucaliptol, agrega ao óleo, quando presente em grandes porcentagens (15%), potencial expectorante e descongestionante das vias respiratórias. Mas se aumentar muito no óleo, diminui o teor de terpineol 4, diminuindo também a eficácia do mesmo contra-infecções.
Os outros componentes do óleo (terpinoleno, terpineno, etc), na sua maioria terpenos, lhe concederão propriedades solventes úteis por exemplo em varizes, trombose e flebites (uso local). Também possuirão algumas propriedades anti-infecciosas e anti-oxidantes, mas se aumentarem muito no óleo, interferem na eficácia de ação do terpinenol 4 por torná-lo pouco hidrossolúvel nos tecidos e mais liposolúvel, o que diminui sua rapidez de ação contra microorganimos.

Cuidados

Apesar do óleo de tea tree nem sempre ser indicado internamente em muitas literaturas, ele apresenta excelentes resultados através de poucas gotas na água para se tomar, principalmente na solução de infecções. Mas, recomendamos que seu uso seja feito sob a orientação adequada de um aromaterapeuta que tenha conhecimento sobre as dosagens no uso interno de óleos essenciais. No caso de alergia ou mal estar, suspenda imediatamente seu uso. O uso excessivo de tea tree, principalmente internamente pode ser tóxico, mas se utilizado adequadamente traz resultados sem fazer nenhum mal. Alguns animais como aves, são muito sensíveis ao óleo, que deve ser usado sempre bem diluído para evitar alergias nos mesmos. Não seria recomendado o uso interno em grávidas (apesar de não ser abortivo), a não ser em casos de extrema necessidade, mas sob acompanhamento terapêutico ou médico adequado.

Indicações

Unha preta, com micoses, descamando ou encravada, pé de atleta (1 a 2 gotas 2 X ao dia por 1-2 meses) e se associado meio a meio com o óleo de cravo da índia obtém-se resultados ainda melhores; sinusite infecciosa (inalações 3-6 gotas); garganta inflamada, laringite e amidalite (1-2 gotas num copo com água para gargarejo); caspa, seborréia (cerca de 25-40 gotas para cada 100ml de shampoo, lavar e deixar no cabelo por pelo menos 3 minutos); impetigo, ptiríase, psoríase, candidíase ou tricomoníase vaginal, coceira genital e nas virilhas, líquen (gel 0,5-2% uso local ou 3 gotas em 100ml água passando com algodão na área); herpes ou sapinho (puro no local); cistite, infecções em geral, candidíase reincidente, enterite, etc (2-3 gotas 3X ao dia em uma colher de sopa de água internamente, por cerca de 1 semana).

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